sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Eu não tenho um cachorro chamado Sulfato. [1]

Conheci o Astolfu (com u mesmo, viveu até os 17 anos na fazenda do pai e só foi registrado há 3 anos atrás pela Renatinha do cartório que anda tão viciada em cyber-linguagem-emo que conseguiu essa proeza Oompa Loompa numa segunda-feira ensolarada) na sétima série, no meio da Clássica batalha Bully que todo pequeno macho recebe na fila da merenda. Claro que nós não éramos os Bullies da área e isso nos tornou companheiros de fuga, isto é, podíamos escapar por esconderijos quase secretos (o cara da limpeza também sabia, justamente porque o buraco era na salinha de limpeza, onde ficavam os galões de líquidos azuis parecidos com o Leite do Zoid Porko, que mais tarde Astolfu comprovou ser algo totalmente diferente e horrível, provavelmente detergente) e assim sair mais cedo da aula e escapar do “te pego lá fora”.
Mas tinha outro motivo dele ser meu camarada (além da união contra a Brigada Bully).
Tínhamos um gosto comum por atividades relativamente bizarras. Enquanto todos batiam tazos (aquela primeira série, do Pernalonga) a gente sentava num canto e cheirava o tempero remanescente dos pequenos discos (Ah! A doce [na verdade salgada] lembrança dos cebolitazos e doritazos, com suas pápricas e(ou) cebolas ácidas, perfeitamente corrosivas e tão eficientes como marco de infância/adolescência).
Assim fomos percebendo nossos excêntricos apetites desde o começo da vida social, quando trocávamos exemplares de insetos (presos com protetores de gilete e selados em baixo com pedaços de papelão, quase sempre recortados de caixas de pizza) enquanto os outros trocavam cartões de RPG repetidos.
Mas o melhor eram as sextas-feiras, quando a gente saía bem cedo da aula e ia direto pro Zoid Porko, que era um boteco bem legal, cujo dono era bem pirado. A gente não bebia nada alcoólico, mas um leite que ele tinha lá. Só ele tinha aquilo. Era um leite colorido, tinha azul e rosa (talvez a idéia inicial era pra menina ou menino) mas você nunca sabia se ia ganhar um azul ou um rosa, então a gente apostava nisso. O rosa parecia um Dan’up, mas quando você bebia, só sentia gosto de leite mesmo. Já o azul parecia detergente (daí a curiosidade do Astolfu em beber soda caustica pra ver se era a mesma porcaria).
O leite colorido era colorido só pra ser colorido, sei lá pra que servia aquilo. Talvez para freaks como nós, ou talvez mais uma idéia daquele freak do Nelson, o dono do Zoid Porko. As invenções do Nelson não precisavam ter utilidade, quase nenhuma tinha. Ele criava coisas que achava engraçado e depois mostrava pra nós e aí servia mais uma branquinha pro Boca Muxa (Velho-bêbado-e-pirado local).
Mas enfim, dizem que o Astolfu tinha uma cachorro chamado Sulfato.

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